Louva a deus, de Elieni Caputo, é um livro imagético e visceral, que se constrói na tensão entre o concreto e o inominável. Em fragmentos breves e numerados, a narrativa evoca imagens que se repetem, se transformam e se permutam como num filme de montagem poética — lembrando a precisão irônica de Ilha das Flores e o abismo existencial de Sylvia Plath. Aqui, o espaço-tempo não é geográfico, mas interior: um lugar de entranhas, de origens e não-nascimentos, onde o corpo-sensação se debate entre ter e não ter lugar. Galinhas, ovos, peixes, fetos e outros elementos orgânicos compõem um repertório simbólico que expõe a pulsação bruta da vida, anterior a qualquer nome ou sentido. A escrita se disfarça de objetiva para narrar o que não pode ser objetivado: o avesso do mundo, a matéria crua dos afetos e da consciência.