Quem foi Maria Miúda? Maria sempre foram muitas, e, especialmente em países de influência cristã, é quase impossível viver uma longa vida sem conhecer uma constelação delas. As mais famosas, que brilham no cinturão de Órion, são todas as nossas centenas de Marias. Mas agora Maria Miúda também é personagem literária, que tem um conto com o próprio nome, junto a Ana, Isaltina, Thereza, Quita, Esperança, Januária, Fátima, Teea e, é claro, outras três Marias. Suas histórias já fazem parte do imaginário da região da Serra do Espinhaço, que liga o Norte de Minas Gerais e a Bahia, e o professor da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Marcos Lobato, transformou em registro literário na nova publicação do Grupo Editorial Quixote: No fundo do mundo as rosas: histórias femininas do Espinhaço. A maioria desses contos encontra as personagens nas margens, mesmo dentro dessas histórias que protagonizam: pobres, na cadeia ou simplesmente sendo mulheres. Mesmo que o tempo da narrativa possa ser o século XVIII, a literatura permite que esse resgate, no século XXI, torne suas histórias atuais. A posição da mulher na sociedade brasileira continua fragilizada, e, assim, uma Maria pode ser todas as Marias, e todas as Marias podem ser as Anas, Paulas, Fernandas, Alices... ou seja, todas as mulheres. O resgate de Marcos Lobato não é apenas justificado pela necessidade do registro histórico de personagens que ainda não haviam encontrado o seu biógrafo. Os contos unem o registro ao entretenimento, ou seja, ao prazer de conhecer e reviver essas histórias. Se estavam escondidas no fundo do mundo, não estão mais. Hora de colher as rosas.