Os contos presentes na obra discutem o racismo intrincado do American way of life As cabeças das pessoas negras, primeiro livro da autora californiana Nafissa Thompson-Spires, questiona a ideia do racismo de que o racismo seja uma questão resolvida nos Estados Unidos. Ao longo de onze contos, a autora expõe a violência que assola os negros norte-americanos, não importando sua classe social. Entre os personagens que permeiam as histórias de Thompson-Spires estão um jovem negro que gosta de usar lentes de contato azuis, platina os cabelos e frequenta eventos de cosplay; um professor universitário que se encontra em uma “guerra fria” com uma colega de trabalho; e uma jovem que cresce negociando e renegociando sua identidade. O livro se destaca por extrapolar a questão do racismo, enxergando o negro como um ser humano complexo e não colocando todos em um mesmo espaço de estereótipos. Claro que o racismo é o ponto central da obra, afinal, a onda de violência que vem atingindo o mundo nos últimos anos parece longe de acabar. Thompson-Spires usa um humor ácido para desarmar o leitor, como uma forma de lidar com o trauma. O título da obra, “As cabeças das pessoas negras”, foi emprestado de um texto homônimo de James McCune Smith, o primeiro médico americano negro a ter um diploma e se formar entre os primeiros de sua classe. Ele estudou em Glasgow, na Escócia, e ao voltar para os Estados Unidos, se tornou o primeiro negro no país a gerenciar uma farmácia. Com seu livro, a autora queria pensar no que significa ser uma pessoa negra hoje e também responder ao que McCune Smith teorizava há quase 200 anos. A cabeça das pessoas negras foi indicado ao National Book Awards e teve enorme repercussão nos Estados Unidos. Agora a Nacional o traz para o Brasil com prefácio de Winnie Bueno, tradução de Carol Candido e preparação de Lorrane Fortunato. Um livro essencial para a discussão do racismo não só nos Estados Unidos, mas também no Brasil e no mundo, discussão essa que parece longe de chegar ao fim.