O ano era 1984. O Brasil fervilhava nas ruas em grandes comícios pedindo “Diretas Já”, a ditadura militar dava seus últimos estertores. Casados há dois anos, Menalton e eu dávamos aulas, muitas aulas. E tínhamos um sonho: publicar um romance e um volume de contos que dormiam na gaveta. Naquele tempo, a publicação de textos de um autor desconhecido era tarefa quase impossível. Então, surgiu a ideia: fundamos uma pequena editora e vemos o que acontece. Assim, naquele conturbado 1984, cheios de esperança e alguma coragem, demos à luz o romance Janela aberta e a coletânea Na força de mulher. Por questões de foro íntimo (e ainda um pouco de medo), Menalton assinou os dois livros como Salvador dos Passos. Em 1987, fechamos a editora, pedimos demissão das escolas e rumamos para o interior de São Paulo. Na bagagem, alguns exemplares dos livros não vendidos e o desejo de morar numa cidade sem faróis e trânsito. Daí em diante, aulas, muitas aulas... Apesar de Menalton querer abandonar a literatura, ela, a literatura, nunca saiu dele. Nunca. Com o tempo, ele voltou à produção de contos esparsos que, mais tarde, reunidos no volume À sombra do cipreste, venceu o Prêmio Jabuti – Ano 2000 – Livro do Ano. Então aquele ilustre desconhecido – agora assumindo seu nome – Menalton Braff – viu abrir portas, janelas, porteiras e portões... A crítica jornalística rendeu elogios ao texto conciso e poético, sensível aos dramas humanos e esteticamente impecável. O livro transpôs os muros das universidades e recebeu vários trabalhos acadêmicos. E Menalton nunca mais parou de escrever... Romances, coletâneas de contos, literatura infantil, infantojuvenil, participação em antologias – várias obras finalistas dos grandes prêmios literários. Em 2022, com o romance Além do Rio dos Sinos venceu o Prêmio Machado de Assis da Fundação Biblioteca Nacional. O ano é 2024. O Brasil respira um pouco aliviado. É necessário comemorar, então, 40 anos dedicados à literatura. Em razão disso, tive a ideia de reunir numa antologia os 40 contos (selecionei oito de cada um dos cinco volumes) que considero os meus preferidos tanto pela temática quanto pela forma. (O autor não palpitou.) Falei com o Marcelo, da Editora Reformatório, que é nosso parceiro (faz tempo), e ele topou. Delicie-se o leitor com os textos, comemore conosco. Menalton Braff e a literatura brasileira agradecem! Profa. Dra. Roseli Deienno Braff