Ossada Perpétua é o livro de estreia de Anna Kuzminska e retrata o luto como força que permeia o passado e o cotidiano.

Fotógrafa e autora fluminense, Anna Kusminska tem uma longa e silenciosa caminhada pela literatura. A maturação da sua escrita se deu longe das gráficas e dos tonéis de tinta; sob a sombra do tempo, o decantador mais eficaz para a boa literatura, e das considerações dos amigos próximos à autora.

Ossada Perpétua tateia um tipo peculiar de luto, entre contos, poemas e páginas de diário. A ausência dita comportamentos, o passado está manchado nas entranhas dos vivos, mas a existência segue um compasso de normalidade. As personagens de Anna parecem sempre querer fugir da realidade (ou do sonho) por meio do falatório vazio, do silêncio transformado em nota musical, da recusa do conforto fraternal, e, às vezes, da arte. O jogo que se trava entre os desejos e as crenças das personagens é confrontado pelo inabitual de desenterrar um pai sem túmulo, ou pela aprendizagem dos limites e transgressões durante a infância. Anna circula Deus e o amor, as memórias provocando desejos, o cotidiano da morte, o avesso da morte, a negação da morte, a recusa da morte. Fazendo as vezes de uma cova, Ossada Perpétua não traz uma arte de capa com detalhes gráficos ou ilustrações sofisticadas. A repetição nos primeiros movimentos da leitura mimetizam o incômodo de remexer no particular absoluto - o repouso da morte.